segunda-feira, 28 de junho de 2010

Meu bebê é um passarinho

20 de junho de 2010. Domingo de sol, mas com um ventinho frio. Copa do mundo. Jogo do Brasil. Brasil 3 X 1 Costa do Marfim. Véspera de inverno. Um dia “normal”.
Que nada. Às 11:34 nasceu Miguel. Miguel tinha 28 semanas de gestação, 720 gramas num corpo de 32,5 cm.
Um prematuro. Como os médicos chamam, Prematuro Extremo.
Diferente das outras mães e pais, não tive a emoção de tocar ou sentir o cheiro do meu filho pela primeira vez. Os pediatras o levaram embora assim que foi tirado da barriga. Quando ele finalmente apareceu já estava numa caixa transparente. Só vi de longe.
E continuo vendo desse jeito. Eu no mundo e Miguel na caixa transparente. Só posso tocá-lo com ponta dos dedos. Pele fina, ossos salientes, pouca carne para rechear o corpo minúsculo.
A primeira coisa que pensei quando fiquei de frente para caixa: “Meu Deus, parece um passarinho”.
Meu passarinho.
Passarinho invocado, que luta para sobreviver como poucos. Meu bravo passarinho. De asas peladas, mas peito cheio de coragem e vontade de viver.
A ficha demora a cair. Finalmente um sonho de infância realizado. Sou mãe. Mas não uma mãe comum. Por complicações na gestação meu bebê não completou os nove meses. Hoje isso importa muito e importa muito pouco.
Sou mãe. Mãe de um passarinho. Um Passarinho chamado Miguel.