quarta-feira, 28 de julho de 2010

Miguel fez 1 mês!!!!

30 dias: 29 transfusões(entre sangue, plaquetas e etc..). 1 infecção bacteriana. 1 cirurgia cardíaca. 1 infecção por fungo, meningite e instabilidade pulmonar.
Querem mais? Eu não. Nem Miguel.
No último dia 20, meu filho completou um mês de vida. E já carrega todo esse peso na bagagem de sua pequena vida.
Nem tudo está curado. Mas ele resiste. É um passarinho forte. E suas batalhas estão só começando.
De qualquer forma vou tentar resumir esses 30 longos dias sem mencionar as moléstias.

A rotina

Hospital. Elevador. Primeiro andar. Lado direito. – ao lado esquerdo fica o berçário dos bebês que nascem de 9 meses e sem problemas. Vou para o lado direito. Sou recebida pelo cheiro peculiar da UTI Neo Natal. Portas de vidro fechadas. Toco o interfone: “ Pois não?”. Eu respondo: “È Carolina, a mãe do Miguel”. Me deixam entrar. Visto o avental e lavo as mãos. Cumprimento as enfermeiras e entro na sala 4.
Lá está Miguel, meu passarinho dentro da sua caixa transparente. Lavo as mãos novamente e uso álcool gel. Digo “Olá” (bato um papo com as enfermeiras e fisioterapeutas de plantão) e vou velar minha cria.
Admiro, converso, canto, rezo, faço carinho em sua cabeça com a ponta dos meus dedos. E é só o que posso fazer até o momento.
Vou para coleta de leite que as mães carinhosamente chamam de “vaca”. Volto para UTI com os mesmos movimentos e continuo a velar meu filho. Depois de algum tempo, faço uma última oração e me despeço.
Vou para casa. Mas, meu coração fica. Desde o dia 20 de junho que meu coração não mora mais no meu peito. Ele fica junto com o pedaço de mim que chamo de Miguel.
No início era mais difícil. Chorava toda vez que via mães levando seus filhos recém nascidos e embrulhados como presentes para casa. Hoje não choro mais. Estou resignada e aceito o que me foi dado por Deus.
Meu bebê está lá, dentro da caixa. É o meu presente. O meu passarinho.
Qualquer dia ele sai da caixa transparente e vem para sua casa. Esse sim, seu verdadeiro ninho.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O que eu fiz? Um passarinho que mata leões.

O que eu fiz de errado? Por que eu?
Essas perguntas gritavam dentro de mim, mesmo os médicos insistindo que o problema era fisiológico, que eu não tinha culpa.
Ver Miguel tão pequeno e frágil na caixinha de UTI além de tudo o que já representa, é também uma frustração. Não me entendam mal, não é futilidade, é sentimento mesmo. Assim como a culpa, a frustração é algo implacável. E comigo não é diferente. Sempre me sentirei culpada e frustrada.
Queria muito ter levado a gravidez normalmente, me deleitar com o barrigão e sentir seus chutes cutucando minha barriga esticada. Não deu.
Talvez por isso, eu sinta dores profundas na alma quando me esqueço por um momento e chamo por ele dentro de mim. Como se ainda estivesse lá...
O sofrimento é ainda maior ao olhar para Miguel dentro da caixa transparente. E o meu ventre vazio. O lugar onde ele deveria estar, sem tubos e agulhas enfiadas na pele.
Não tem jeito.
Hoje as perguntas que antes falavam tão alto na minha cabeça estão mais silenciosas. Vivendo no hospital estou aprendendo que algumas coisas não escolhem beleza, poder aquisitivo, cor, benevolência ou simpatia...
Elas acontecem e pronto. Independente das minhas dúvidas e questionamentos.
E não há como voltar atrás. Só tentar seguir em frente. Nem sempre a cabeça estará erguida, afinal, as más notícias são como grandes pedras atiradas na sua testa. Dói e você chora. Mas passa. Por que os dias continuam e os leões estão lá para serem mortos.
E quem vai matá-los? Um passarinho, é claro. A luta é desleal. Mas ele briga assim mesmo.
E um dia como nas fábulas, todos saberão de seus feitos: Miguel, o passarinho que matava leões.

domingo, 4 de julho de 2010

FOI ASSIM...

Explico aqui por que Miguel é prematuro.
Tudo ia muito bem até chegarmos do quinto para o sexto mês (não me lembro as semanas). Fizemos uma Ultra-sonografia Obstétrica. Na hora do exame a médica mandou a seguinte frase: “ É... parece que há uma resistência nas suas artérias uterinas.”
Na hora tocou o alarme (eu estava adivinhando) e ela muito fofa ao meu desespero falou: “Não é nada, não. È só uma resistência, mas é normal na sua idade gestacional.”
Ela era fofa demais. E eu costumo ter medo de gente fofa. Nunca passam a realidade da situação. Mas acabei me deixando levar e esperei a consulta Pré Natal tranqüilamente. Afinal, ela foi tão fofa...
E eu fui trouxa. E não deu outra, a pessoa fofa escreveu no laudo, que diferente do que ela me disse fofamente, o bicho tava pegando para o meu lado.

A tal da DHEG

Não serei fofa. Serei prática e objetiva.
Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG). Foi isso que eu tive. Esse troço aumenta a pressão arterial e causa uma alteração placentária, com retardo de crescimento uterino. Não há uma causa para a doença e o único tratamento é o controle durante a gestação.
No meu caso, ela aconteceu muito cedo, obrigando a obstetra a me acompanhar semanalmente com visitas e ultra-sonografias a partir do 6º mês. Quando chegamos a 28ª semana de gestação, Miguel chegou também ao seu limite. E durante um último exame já no hospital, aconteceu o que os médicos chamam de Centralização. Explico. O bebê começou a entrar em sofrimento e se esperássemos mais um pouco, as conseqüências seriam muito mais graves. Foi a decisão correta.
Agora Miguel precisa crescer e se desenvolver fora da barriga o que não foi possível dentro.

Por Carolina Jardim