Todo mundo sabe como Miguel é um
bebê abençoado. Sua vontade de viver se sobrepôs as adversidades, recebeu o
cuidado de profissionais maravilhosos, teve um bom pós-UTI, não tem sequelas...
Mas um dos principais motivos do
sucesso dessa criança é seu pai.
Falo agora sobre o homem que Deus
colocou no meu caminho para ser o pai do meu filho.
Nos conhecemos no trabalho e
namoramos à distância mesmo com muita gente contra. Casamos e fomos morar em
Sampa. Priorizamos os estudos e queríamos nos formar antes de encomendar um bebê.
Sempre soubemos que caso fosse um menino se chamaria Miguel. Era um acordo que
fizemos quando ainda namorávamos ao ver um menino lindo e levado num passeio de
barco.
Ficamos grávidos, até que tudo
aconteceu. Ficamos juntos o tempo todo. Ao longo a UTI, alternávamos os
momentos de crise. Quando eu fraquejava, ele se mantinha firme para me segurar
e eu fazia o mesmo.
Miguel nasceu no meio da Copa do
Mundo e lembro nitidamente dos boletins diários sobre os jogos que Luciano
contava para o bebê.
Um dos piores momentos de Luciano
foi numa noite em que eu estava muito gripada e não pude ir à UTI. Ele foi e
demorou a ligar. Eu não aguentei e ele respondeu a ligação aos prantos contando
que Miguel teve várias convulsões. Quando chegou choramos juntos e sabíamos que
o pior estava por vir. Era a temida Meningite. Quando o diagnóstico se
confirmou, o pavor nos dominou e tivemos a certeza de que nosso bebê teria
sequelas irreversíveis. Combinamos que só pensaríamos nisso na hora em que a
deficiência aparecesse. Seguimos com a vida. Afinal Miguel precisava primeiro
sobreviver para ter sequelas. O que graças a Deus, não aconteceu.
O segundo e pior momento foi
quando tivemos que nos despedir dele. Luciano ficou em frangalhos e chorava
copiosamente. Era seu primeiro dia dos pais e passamos o domingo aguardando a
morte do nosso filho. No último dia 07/08 fez dois anos que isso aconteceu.
Sempre estivemos unidos em todos
os perrengues. Sempre.
Junto comigo, ele acompanhava
diariamente o peso, a dosagem do leite, o cocô, os remédios, tudo. Nunca
reclamou de nada. E se me recordo, nunca brigamos por nada nesse período. Nada
mais importava, só o nosso esperado e tão difícil quanto amado filho.
Resistimos a UTI e quando
finalmente trouxemos o bebê para casa, era hora da adaptação. Mãe é mãe, não
tem jeito. Mas pai, nem sempre né?
Mas não era um pai qualquer. Era um “Pai-de-UTI”. Era o Luciano.
Ele aprendeu a dar banho, fazer
mamadeira, trocar fraldas e tinha uma paciência de Buda. E ainda tem.
Hoje rimos com todas as gracinhas e juntos ficamos estasiados em como tudo acabou bem. Acabou não. Como diz Renato Russo na música Metal Contra as Nuvens:
" E nossa história, não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas para contar. E até lá, vamos viver. Temos muito ainda por fazer. Não olhe para trás, apenas começamos. O mundo começa agora, apenas começamos."
Hoje rimos com todas as gracinhas e juntos ficamos estasiados em como tudo acabou bem. Acabou não. Como diz Renato Russo na música Metal Contra as Nuvens:
" E nossa história, não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas para contar. E até lá, vamos viver. Temos muito ainda por fazer. Não olhe para trás, apenas começamos. O mundo começa agora, apenas começamos."
Luciano vai ensinar Miguel a
andar de bicicleta e a fazer o dever de casa. Vão ao estádio juntos ver o São
Paulo e o Botafogo (sim, tem que torcer para os dois times).
Miguel vai fazer perguntas
absurdas que ele vai se virar para responder. Vão jogar bola e dar banho no
cachorro no quintal enquanto eu preparo o almoço.
E quando eu me meter, Miguel vai
falar: “Isso é coisa minha e do meu pai.” (e eu vou falar algum palavrão é
claro).
Luciano é um cara honesto,
lutador e divertido. Um exemplo a ser seguido. O passarinho não mata seus leões
sozinhos. Não com o papai (e a mamãe)
por perto.
Dedico esse texto ao Pai do
Miguel e a todos os “Pais-de-UTI”. Algumas vezes - principalmente no hospital,
eles ficam um pouco de lado. Mas estão sempre presentes.
Grande Beijo e até a próxima.
Carolina