sexta-feira, 18 de outubro de 2019


O Diagnóstico
Pois bem. Depois de muita caminhada, encontramos uma boa neurologista (já tinha passado por uma que me detonou e outro que falou em perfeição, claro que não podia ser nenhum dos dois).
Então essa terceira viu todos os exames, observou bem ela e chegou a conclusão que Miguel era um vencedor. Que estava ótimo mesmo com tudo o que aconteceu.
Mas (sempre tem o “mas”) devido a todas as intercorrências: paradas cardíacas, respiratórias, meningite e outros, as lesões foram inevitáveis e junto com elas um Comportamento Autista. Pronto, falei.
A Psicóloga e a Neonatologista já tinham mencionado isso, mas eu fingi que não ouvi. Sério. Não queria aceitar de jeito nenhum.
O Autismo veio para mim do mesmo jeito que a Meningite. Um caminho sem volta. Dolorido. Eu sabia que seria muito difícil.
Eu tinha medo do “Rain Man” (um filme dos anos 80 em que o Tom Cruise tem um irmão autista já velho (Dustin Hoffman) em grau severo totalmente dependente.
Então entrei em pânico e chorei. Chorei uns 15 dias em pura negação. Já tínhamos passado por tanta coisa e a gente só queria paz.

Depois de chorar minhas pitangas, resolvi seguir em frente. Correr em frente na verdade. Perdi muito tempo sendo uma mãe normal e agora eu precisava resgatar aquela força dos tempos de UTI. Afina eu sou Mãe de Passarinho.
E assim eu fiz. Comecei a pesquisar sobre o assunto e a fazer comparativos com o Miguel. Mergulhei na terapia e tudo começou a fazer sentido.
O que eu não queria ver é que eu tinha uma criança crescendo diferente das outras.
Ele não dava atenção para ninguém. Tinha fixação por números e letras e com quase 6 anos ainda não falava direito. Eu não conseguia ter controle sobre ele e muitas vezes perdia a paciência com suas atitudes e manias. Mas achava que tudo era a prematuridade.
Quando na verdade já era ao Autismo se mostrando para uma mãe em negação.
Eu errei muito nisso, eu sei. Já me culpei muito. Mas vida que segue e ele não podia mais esperar. Parei de ter pena de mim mesma e fui tocar a vida. Do jeito que ela era.
Fazemos fono, Psicóloga e Psicopedagoga. E nesse momento – para ele – é o suficiente. .mais que isso pode cansar demais e nada vai fazer efeito.
Todo processo é lento. Muito. Todos os progressos demoram demais. As vezes tenho a sensação de que anda vai ajudar. É uma angústia.
Mas para uma mãe de prematuro e agora de autista, paciência, resiliência, resistência e “força na peruca” já fazem parte da rotina. Tem que respirar e continuar. Simples assim.

Explicando o transtorno do Espectro Autista
Lembrando que não sou médica, só uma mãe dedicada.
O Autismo afeta a capacidade de comunicação do indivíduo, de socialização (estabelecer relacionamentos) e de comportamento (responder apropriadamente ao ambiente).
O Autismo acarreta o comprometimento de 3 principais eixos:
- interações sociais
- comportamentos estereotipados, repetitivos e com poucos interesses.
- comprometimento forte na linguagem e na comunicação.
O Autista não aprende por “osmose”. Crianças normais tendem a imitar o comportamento alheio, aprender a falar mais instintivamente mesmo que seja vendo TV.
O Autista precisa ser ensinado sobre tudo. Muitas vezes. Demoram a aprender coisas básicas. E vira algo mecânico. Também são incapazes de entender sutilezas, entrelinhas, sarcasmo, ironia, piadas ou duplo sentido. A maldade e malícia são inexistentes.
O Autismo não tem cura. E até hoje não se sabe qual é a causa. O que se consegue é melhorar a qualidade de vida. Proporcionando o máximo de autonomia e entendendo o comportamento e as necessidades da criança. Aí que entram as terapias. Mas eu vou falar sobre isso depois.
O importante é a participação de toda a família. É algo que precisa ser feito em conjunto. E nós fazemos isso. Cada vez que chego da fono ou da psicóloga com uma novidade, espalho e ensino para todo mundo. Avós, tios, primos. Todos precisam ajudar nessa jornada.
O trabalho de hoje reflete diretamente no futuro.
Miguel precisa de autonomia, independência. Se virar sozinho mesmo.
Mas superar obstáculos é especialidade dele. Desde que nasceu, meu Passarinho já matava Leões. E segue lutando com sorriso no rosto, peito aberto e a coragem de uma criança
Autora: Carolina Jardim  - @maedepassarinho