domingo, 27 de março de 2011

Miguel em casa

Amigos do blog. Sei que estou muito atrasada com os textos. Mas estou sem tempo para escrever. Vou tentar melhorar. Prometo.

Vou contar para vocês como foram esses 4 meses fora do hospital. (Miguel recebeu alta em 08/11/2010)

Sempre ouvi mulheres falando que ser mãe é o máximo, é dádiva e blá-blá-blá.

Mas quando se é mãe de um Prematuro Extremo que ficou 5 meses numa UTI, ser mãe é “sinistro”. Dá medo, insegurança e uma vontade danada de sair correndo.

Mas, como sempre, eu encarei.

No dia 08 de novembro ele chegou em casa. Mostramos para ele cada cantinho. Seu berço, suas coisinhas todas verdes com tema de floresta, suas mamadeiras e todo resto.

Choramos muito. E a partir daquele momento não haveria técnicos, enfermeiras ou pediatras para fazer nada. Éramos nós três.

Sensacional.

E agora??????

Eu não tinha a mínima idéia do que é cuidar de uma criança.

E aí? Eu dou mamadeira? Troco a fralda, brinco, boto para dormir? Planto bananeira? Compro uma bicicleta?

Bateu um desespero....respirei fundo e decidi “deixar rolar”...

Para vocês terem idéia, as primeiras noites nem dormimos direito. E quando conseguia pegar no sono, eu dormia de óculos. É sério. Numa emergência, já levantava enxergando.

Pode até parecer exagero. Talvez tenha sido mesmo, mas foi eficaz.

E a pressão de cuidar de um prematuro é forte. Não posso me dar ao luxo de errar.

Há também como agravante a carga psicológica de ser o que os médicos chamam de “Mãe de UTI” - isso é algo pesado para se carregar. É um medo constante. Parece que qualquer vento vai trazer uma pneumonia.

E a possibilidade de uma nova internação me apavora. O hospital foi o lugar em que passei a maior parte do meu ano de 2010. Sofri muito. Aprendi muito. Fiz muitos amigos. Mas, não quero voltar nunca mais.

O pós UTI é intenso. Um especialista diferente a cada semana. Fomos ao Oftalmologista e a primeira boa notícia: todo sistema visual de Miguel estava pronto. Ele enxerga direitinho. Terá que voltar para novos acompanhamentos.

Depois foi o Otorrino. O teste da orelhinha que ele fez, deu falha no ouvido esquerdo e tivemos que repetir. Lá fomos nós.

Segundo a médica, ele só houve a partir dos 30 decibéis. Está no limite da normalidade e isso não vai atrapalhar seu desenvolvimento. Só não pode aumentar, ou teremos problemas. Mais um acompanhamento.

O próximo médico foi o Neuropediatra. Esse disse que ele está bem. Passou alguns exames para cortar o uso do Gardenal (sim, ele toma esse remédio – lembram que ele teve meningite e crises convulsivas?).

Um dos exames – a Ultrasonografia de Crânio deu alteração. Uma dilatação do ventrículo (onde se produz o líquido da espinha) esquerdo. Segundo a pediatra, essa dilatação é uma seqüela da meningite e ele já a possuía nos tempos de UTI. O tamanho dessa dilatação deve ser controlado mensalmente. Se esse troço aumentar pode acarretar numa hidrocefalia. Aí, danou-se. Outro acompanhamento.

Fora as consultas pediátricas mensais. Ufa.

Agora ele faz Fisioterapia motora. Por ser prematuro (de novo essa palavra), seus movimentos e desenvolvimento motor são muito atrasados com relação às outras crianças da mesma idade.

Miguel tem hoje 9 meses. Mas ainda não rola, não tem força para sentar, e muito menos engatinhar. Seu progresso é visível. A cada dia que passa, ele fica diferente e mais esperto.

Já emite vários sons engraçados e odeia ficar de bruços. É risonho e não chora muito. Estamos começando com a papinha salgada, mas ele ainda não se acostumou.

É uma figurinha.

Agora falta uma vacina especial. Existe um vírus que transmite uma espécie de gripe que pode matar o prematuro (acredite se quiser). O restante das vacinas está em dia e Graças a Deus, desde que saiu do hospital, não teve problemas.

Uma coisa é preciso ser dita: Todas as orações, de todas as religiões. De todos os amigos e mesmo daqueles que não nos conheciam.

Todas elas foram ouvidas. Jamais terei palavras para agradecer tudo isso.

Meu passarinho sobreviveu às agruras da UTI. Agora ele tem uma vida inteira fora da caixa transparente.