Há exatamente dois anos,
acontecia a maior transformação da minha vida. Mais que mudar de cidade ou
casar...
Sempre fui uma pessoa estranha.
Não tinha modos, paciência (continuo com pouca), flexibilidade e tinha o prazer
de ser rebelde. Mas o tempo passa e a vida muda e nos transforma. Acho que é
por isso que estamos aqui.
Hoje eu continuo com pouca
paciência, melhorei meus modos e flexibilidade. E quanto a ser rebelde...
bom, isso é da minha natureza e DNA indígena,
fica difícil de mudar.
Mas, ter um filho prematuro não é
tarefa fácil, e a vida se mostra sob novas circunstâncias, então aprendi a dar
valor às coisas mais simples. Como um cocô na fralda, por exemplo.
Estou mais calma, mais sensível,
responsável, atenta e sei o que é realmente importante.
Tudo isso é culpa do Miguel. Há
dois anos, essa criatura veio ao meu mundo da forma certa por linhas tortas.
Depois de um tempo a gente
percebe que nada foi por acaso. O sofrimento, a agonia, o local, as pessoas que
cuidaram dele, toda a situação. Tudo foi um plano superior. Eu precisava entender
algumas coisas antes de ter meu filho
nos braços. Toda a longa jornada não foi em vão.
Quando se tem um filho, experimentamos
o sentimento maior desse mundo, sentindo um amor que dói, um amor que não tem
nome. E quando a dificuldade e o sacrifício se fazem presente, aí que dá mais
vontade de lutar, é nessa hora que você sabe que vai valer a pena.
Foi quando meu coração saiu do
peito e agora atende pelo nome de Miguel.
Dois anos se passaram e Miguel
está uma figura: Não pode ouvir o barulho do chuveiro que começa: “Manho!
Manho!”. Não pode ver um carro: “Cáaoo, cáaoo”. A galinha pintadinha virou
“Pó-pó” e os cachorros: “Au, au, au”. Manda beijos estalando os lábios e
batendo a mão espalmada no rosto. Chuta bolas e grita com sua voz rouca:
“Mooolll”.
No último mês nos mudamos para o
Rio de Janeiro e estamos começando uma nova vida. Junto do primo, Miguel tem
que aprender a se virar e se defender. Vai se desenvolver mais rápido.
Já anda muito e por todos os
lugares, não para quieto um minuto. Come de tudo e parece um saco sem fundo.
Está numa fase chatinha, já que todos os dentes estão nascendo ao mesmo tempo e
ele sente dor. É muito esperto, sorridente e às vezes bem ranheta.
Miguel é meu tudo. Como disse,
sempre fui esquisita, mas com ele é diferente. Meu filho tem o melhor de mim.
Ele é o melhor de mim.
Hoje, Miguel completa dois anos
de vida. Uma vida ainda curta, mas já intensa e com muita história para contar.
A fábula continua. Talvez já não
seja mais uma fábula, é uma história real. O passarinho matou seus primeiros
leões e está crescendo. E nós como pais, crescemos junto com ele e para ele.
Que venha sua nova vida. Estaremos
juntos. A jornada é nossa, mas vocês seguem junto com a gente.
É hora, é hora, é hora, é hora, é
hora! Rá! Tim! Bum! E viva o Miguel.E na hora de soprar as velinhas, o pedido é um só: SAÚDE PARA O PREMATURO QUE CRESCE!!!