segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Quem será Miguel?



COMO SERÁ MIGUEL?

Quem é esse tal de Miguel?

É um bebê prematuro extremo, que nasceu com 32 cm e 720gramas. Pele aparentemente branca, olhos pretos e muito vivos.

E amanhã, no futuro, como será Miguel?

Será canhoto ou destro? Comportado ou levado? Gordinho ou magricela? Educado ou mimado e enjoado – ai não, por favor.

Será preguiçoso ou não vai parar quieto? Vai gostar de desenhos e livros? Bem que podia ser bom em matemática como o pai. E estudioso também.

Terá seqüelas das moléstias adquiridas na UTI? Deus queira que não.

Com certeza vai gostar de bicho assim como seus pais. E vai querer um cachorro. E o pior é que vamos dar.

Como será que vai falar? Já que tem um sotaque paulistano e um carioca na mesma casa. Vai torcer para o Botafogo ou para o São Paulo? Nada de Corinthians e Flamengo!

Será que vai gostar de praia? Essa ele não vai ter escolha.

E na hora que se juntar com o primo? Quanta farra. João Pedro e Miguel. Que dupla – Deus nos defenda!

Meu grande desejo é que ele seja uma criança educada. Que saiba sentar numa mesa e comer direitinho. Que tenha na boca as palavrinhas mágicas: “por favor”, “com licença” e “obrigado”.

Que ele respeite os mais velhos e mais moços também.

Quero que ele tenha personalidade própria e não siga nenhuma “tribo”, porque esses caras querem ser diferentes, mas são todos iguais entre si.

Que seja uma criança bacana e um cara divertido.

Mas, o que eu quero mesmo é que ele seja um homem de bem, e do bem. Que cresça saudável e se torne um adulto que faça diferença nesse mundo. Tenha uma profissão e uma família.

Hoje ele é meu passarinho. Sempre será. Um dia ele vai voar seguir seu próprio caminho. Mas por enquanto eu e Luciano temos a grande missão de criar e educar essa criança tão especial. Não é fácil. Talvez nunca seja. Mas às vezes eu queria que ele tivesse um botão para desligar. Só um pouquinho...

Miguel é meu passarinho e desde o dia 08/11/2010 está em casa. Isso é que importa. Eu e Luciano vamos ensinar a ele tudo de bom que aprendemos. E de ruim também. Ele precisa aprender a diferenciar. E vai saber.

Em casa ele já dança no meu colo ao som de samba carioca e Legião Urbana. Está aprendendo a sorrir e começa a emitir alguns sons bem bonitinhos.

Temos muitos médicos para ir e recomendações a seguir. Mas não nos intimidamos. Seguimos em frente. Mesmo com ele em casa, nossa vida não está fácil. As vezes nem almoço...

Mas estamos felizes. Nós três. Eu, Luciano e o passarinho...

sábado, 20 de novembro de 2010

A ALTA



A ALTA

Depois de quase 5 meses na UTI, Miguel recebeu alta.

A despedida do hospital foi muito bonita e ao mesmo tempo dolorosa.

Sempre que um bebê fica muito tempo na UTI e vai embora, todas as enfermeiras, técnicas e mães fazem um corredor de aplausos para que a mãe e o bebê passem e se despeçam.

É muito emocionante e um filme passa na sua cabeça. Você diz adeus a cada um e lembra de quanto aquela pessoa foi importante para o seu filho. E quando se despede das mães, fica torcendo para que elas possam ir embora também com seus bebês no colo. A maioria chora. Um choro de alegria, pela missão cumprida e tristeza pelo amigo que se vai. São muitas emoções juntas, não tem como explicar.

Ter ficado quase 5 meses no hospital foi terrível, mas até isso tem seu lado bom. Quanta bagagem, quanto aprendizado e quantos amigos eu fiz.

O meu lado mãe floresceu de uma forma diferente das outras mulheres. Não tive a ajuda do instinto materno. Quando um ser humano sai de você com 720 gramas e fica numa caixa transparente tentando sobreviver, é um teste. No início há um medo de se apegar aquela criatura tão frágil, a sensação de que não vai dar certo é muito forte. Mas conforme o tempo vai passando, a criatura cresce, tem um rosto e cria personalidade, a gente se pergunta: por que não? Por que não pode dar certo? Será que é impossível mesmo?

Aí o amor vem. E não tem mais jeito. Já era.

Pensando hoje, vejo que o que me despertou a maternidade talvez tenha sido a convivência com a vida e a morte de forma tão intensa, tão real.

E isso fortalece também.

Hoje vejo que não sou uma mãe qualquer. Nenhuma daquelas mulheres da UTI é. Temos a verdadeira noção do que é realmente grave e o que é um simples dodói. Não vou me apavorar de bobeira.

Minha fé mudou também. Agora, acredito em milagres. Afinal, tenho um milagre que chamo de filho.

EM CASA, E AGORA?

Vou confessar, deu muito medo de levar ele para casa. Como já disse, nunca fui jeitosa com criança alguma e agora sou mãe. Todos os dias, peço que Deus me dê luz e discernimento para que eu faça as coisas certas. Meu grande pesadelo é ele voltar para o hospital. Acho que todas as mães pensam assim. É muita pressão e a gente dá uma pirada mesmo.

Tenho que dar banho sozinha, controlar os remédios e as mamadas. Fora o resto todo. Ufa!

Mas aos poucos vou aprendendo e seguindo o meu caminho. Errando, acertando e descobrindo o melhor jeito de cuidar do passarinho. Sou mãe de primeira viagem e já no início enfrentei a ira de Poseidon.

Hoje o mar está mais calmo. Nadamos muito e chegamos em terra firme.

Pensando em tudo, vemos que deixamos para trás muita coisa ruim, mas também amigos para a vida inteira. Pessoas que vamos carregar no coração para sempre. Que fizeram da minha dor a sua própria e choraram comigo nesses momentos. E riram também nas horas de vitória. Ouviram meus desabafos e me aconselharam várias vezes. Me sopraram esperança no ouvido e seguraram na minha mão.

Pessoas que tornaram minha estadia naquele hospital suportável e cuidaram do Miguel como se fosse seu próprio filho.

Deixo aqui um beijo especial para algumas dessas pessoas:

Moniquinha, Renata TE, Etiene, Renata Enfermeira, as duas Liliam(s) TE (noite), Fabiana, Beth, Gabi, Marilia, Camila, Luciana, Tati Enfermeira (noite) e Érica do banco de leite. Amo vocês.

De verdade.

Obrigada.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Miguel na Semi



Miguel na Semi.

102 dias. Ao entrar na sala da UTI a enfermeira nem dá bom dia e já dispara: “Miguel vai para Semi!”

“Ah, tá ”. Foi o que eu disse. Conta a do português agora....

A fisioterapeuta confirmou fazendo coro e ainda mandou outra bomba: “Seu filho está sem oxigênio desde às 08hs da manhã (já eram umas 11hs).


Foi demais e só consegui pensar: “Agora me mostra a câmera, que eu quero sair bonita na pegadinha”.

Mas era verdade. Miguel foi para Semi-intensiva e respirando sozinho.

Caraca!!!!!!!! Não. Mil vezes caraca!!!!

Ainda não me acostumei. A unidade semi é muito mais calma. Não há entra e sai de médicos e enfermeiras. Não tem exames o tempo todo e nem bebês infectados. Só a galera que está com um pé na rua. Esquisito. Não se ouve "grave" de cá ou "gravíssimo" de lá.

Mas a calmaria ainda me dá medo. É como se eu estacionasse o carrinho da montanha russa, mas, lá na parte mais alta, antes da queda. Parece meio dramático, eu sei. Mas quando se tem um bebê prematuro extremo tudo pode acontecer. E o meu receio não passa.

É claro que eu estou comemorando. Mas que dá medo, dá. Como vocês sabem, já passei por muitas.

O outro lado

Com Miguel, agora na semi (porque ele é chique), eu tenho passado meus dias inteiros no hospital.

Ele ainda precisa completar algumas braçadas para atravessar o resto do oceano e chegar na terra firme da Alta.

Ele precisa aprender a mamar. Sim, prematuros não conseguem fazer as coisas mais comuns para um bebê. Como nascem antes do tempo, tudo neles é inacabado, até o mais simples dos instintos. O passarinho está sendo acompanhado por uma fonoaudióloga, e uma hora ele consegue.

Ele tem que ganhar peso também. Isso é meio complicado. Ele ganha um dia e perde no outro. E é uma tortura acompanhar dia-a-dia os números da balança. Hoje ele pesa em torno de 2.100kg e tem 42 cm. É um passarinho mesmo.

Ainda tem a cirurgia da hérnia. Essa vai acontecer perto da alta. Ele precisa ser mais pesado para realizá-la.

Ufa!

Só para constar: Hoje, dia 14 de outubro, são 116 dias de Hospital.

Mil vezes Caraca!

domingo, 19 de setembro de 2010

90 dias de UTI



20 de setembro de 2010. 90 dias de UTI. Noventa dias de muita angústia, muito sofrimento e muitas alegrias também. Afinal são 90 dias de Miguel.

Parece rápido. Talvez. Mas é também uma eternidade.

Todo mundo já sabe o que aconteceu. Não vou me repetir.

Nesse tempo percebi que a UTI é um local de testes: testa seu equilíbrio emocional, sua lucidez, seu coração, seu casamento e sua fé.

Não é fácil. Tem dias que dá vontade de sair correndo e nunca mais voltar ao hospital. Mas se aquele pedaço de você está lá firme, forte e te esperando, quem sou eu para desistir?

E mesmo na exaustão, vem a mão de Deus e te leva. E eu vou. Há 90 dias ininterruptos.

Hoje, Miguel está estável. Ainda tem um longo caminho pela frente. Precisa aprender a respirar sozinho, a mamar. Vai passar ainda por uma cirurgia de hérnia bilateral sem data prevista. Tem que ganhar peso. E não pode contrair mais nenhuma enfermidade.

Vamos lá. Ainda falta muito para chegar ao outro lado do oceano. Mas continuamos nadando.


* Mostro mais de Miguel e alguns de seus anjos. Infelizmente não foi possível mostrar todo mundo, mas são pessoas iluminadas que estão em nossos caminhos. Nos ajudam nessa jornada, a fazem dela um pouco mais fácil e as vezes até divertida. Amigos que eu, Luciano e Miguel vamos levar no coração por toda nossa vida.

ANJOS DE MIGUEL (parte II)

ANJOS DE MIGUEL (parte II)

ANJOS DE MIGUEL (parte II)

ANJOS DE MIGUEL (parte II)

ANJOS DE MIGUEL (parte II)

ANJOS DE MIGUEL (parte II)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

EIS O PASSARINHO


Eu e Luciano decidimos apresentar Miguel.
Mostro agora a razão desse blog.

Miguel Jardim Marinov
*1,590 kg
*39 cm
*78 dias de vida e de UTI.


É por esse tubo na boca que ele respira. Mas por favor não sintam pena. Miguel não precisa disso. Como vocês sabem, ele já encarou 40 transfusões de sangue, infecção bacteriana e por fungo, meningite, hipertensão pulmonar e etc...

Não pensem: “ahhhhh, coitadinho....”

Porque tudo isso que ele passou (e ainda passa), nenhum de nós agüentaria.

Miguel é meu orgulho. Tanta bravura e vontade de viver em apenas 39 cm e 1.590kg.

Miguel é meu anjo. Tão pequeno e tão iluminado.

Miguel é meu desafio. Nunca fui jeitosa com crianças.

Miguel é meu tudo. Mato e morro por ele.

Miguel é meu passarinho. Um passarinho que mata leões. E isso basta.



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

EU, LUCIANO, MIGUEL E DEUS

Dicionário Aurélio:

Desespero: desesperação, aflição extrema.
Medo: sentimento de viva inquietação ante a ameaça de perigo real ou imaginário de ameaça, pavor, temor.

Foi isso que eu senti quando o Dr. Joaquim, pediatra, deu seu parecer a Luciano numa terrível sexta-feira: “_ Seu filho tem chance, mas corre risco de vida”.
Nessa hora, meu cérebro virou mingau. Minhas pernas perderam as forças e eu fiquei oca. Não conseguia enxergar nada. Parecia tudo embaçado. Depois percebi que eram lágrimas que enchiam meus olhos e sujavam meus óculos.
Só me restou o instinto de respirar. Não pensava. Não falava. Não me movia. O torpor tomou conta de mim.
Por que isso? Miguel está com Hipertensão Pulmonar. Seu pulmãozinho já ferido pelo oxigênio travou. A pressão dentro dele era maior que a do ar que vem de fora para respirar.
Foi um pandemônio e muitas drogas foram adicionadas ao seu já recheado prontuário. E em pouco tempo dois “postes” com bombas de remédio se erguiam ao lado do seu leito. Foram nove ao todo. Fora os medicamentos de horário que não entram no poste. Até viagra que é um vaso dilatador, ele tomou, na dosagem correta, é claro.
Foi necessário um acesso central ou Flebo como é chamado. Esse troço é como um cano enfiado numa veia dissecada dele. Foram feitos dois, porque um não deu certo.
O ventilador que leva oxigênio pelo tubo, estava agora em “alta freqüência”, ou seja, o aparelho faz com o pulmão fique aberto e respirando, mas o paciente fica tremendo 100% do tempo. Tem noção? E como ainda era pouco, essa alta freqüência fez o pulmão de Miguel “romper”, vazando ar para o tórax. Para esse problema foi introduzido um dreno ou sonda nas costelas dele para que o fluído saia.
Esse foi até hoje o maior leão que Miguel enfrentou e ainda enfrenta.

Nós e Deus

Quando vi tudo isso só me veio uma coisa em mente: “”Caraca” (mentira, pensei um palavrão parecido com isso) – agora “ferrou” (outra mentira) – a “porcaria” (mentira de novo) toda”.
Por um momento achei que fosse enlouquecer.
Quando se tem um bebê há quase 60 dias numa UTI, a impressão é que o oceano está na sua frente e você tem que nadar a pequenas braçadas todo ele, até que chegue em terra firme. Essa terra tão distante, esse lugar se chama “Alta”.
E meu mar que nunca foi de calmaria, foi acometido por um maremoto digno de Poseidon. Estávamos eu, Luciano e Miguel no meio dele.
No sábado a Dra. Paola – pediatra, depois de explicar a gravidade da situação, foi sincera, como sempre: “Ele tem 48 horas para responder, já fizemos tudo que podíamos. Conversem com Miguel e diga para ele seguir seu caminho”.
E foi o que eu fiz. Achei que era o certo a fazer.
Com o sofrimento meu e dele bloqueando meus sentidos, conversei com Miguel. E foram as palavras mais dolorosas que disse em minha vida:
“Miguel. Eu sei o que está acontecendo. E eu te amo tanto, mas tanto, que não quero te ver sofrendo. Se você for para o colo de Papai do Céu, eu e seu pai vamos ficar tristes sim. Mas vamos te entender. Se você for um anjo que veio para minha vida e tiver que voltar para o seu lugar, pode ir. Você será sempre meu passarinho. Eu te amo”.
Saí da UTI e chorei. Chorei como nunca havia chorado em minha vida.
É uma dor sem nome. Que ainda dói sempre que ele piora.

No meio do maremoto que enfrentávamos (e ainda enfrentamos), só tinha uma bóia para todos nós, e estava gravado com letras grandes: Fé em Deus.
E foi nela que nos agarramos. Já não tínhamos mais lágrimas. Apenas fé. Abalada, mas ainda estava lá.
O fim se semana passou e se esgotaram as 48 horas. Isso já faz mais ou menos 12 dias.
Miguel continuou e continua lutando. Graças a Deus.
O pulmão ainda não melhorou muito, mas as drogas diminuíram.
Nós deixamos ele ir, mas ele não quis.
Esse leão que ele enfrenta é cruel, é forte e difícil, mas Miguel é muito valente. E o mais importante: meu passarinho quer viver.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

OS ANJOS DE MIGUEL

Dessa vez não vou fazer propriamente um texto. Resolvi homenagear e de certa forma apresentar a vocês algumas das pessoas que cuidam das crianças na UTI Neo Natal, e que estão mais próximas a Miguel.
O que fiz foi perguntar a elas o que é cuidar dessas crianças que não são seus filhos – mas também são. Eis aqui seus depoimentos:

• O que é para você cuidar desses bebês?

 “Eu gosto eu mesma de “furar” por que eu sei – modéstia a parte – que será bem feito”. (Ana Maria – mãe Lais, Mayra e Juliana - Téc. De Enfermagem do laboratório que colhe os exames de sangue da criançada)

”Aqui é uma extensão da minha casa. São crianças especiais” (Mônica, enfermeira, mãe do Pedro )

 “É meu segundo papel nessa vida (depois de ser mãe)”. (Dra. Gabriela, mãe do Guilherme e da Beatriz – médica responsável pelo “Eco”)

 “Como uma responsabilidade muito grande. Por que essas crianças são o verdadeiro sonho dos pais, que esperaram muito tempo e na maioria das vezes não terão oportunidade de ter outros filhos. Por isso, tento sempre fazer o melhor possível para o bem estar dos bebês e dos pais. E eu amo demais, não presto para outra coisa.” (Magny, Téc. de Enfermagem, não é mãe – ainda).

 “São a luz do meu trabalho. É demais trabalhar para eles. Eu trabalho mais para eles do que para mim.” (Etiene, fisioterapeuta, não é mãe, mas cuida da respiração do Miguel).

 “Tenho muito carinho por eles. Acho que nosso sentido maior é poder fazer com que eles possam ir embora nas melhores condições possíveis.” (Luciana, enfermeira, não é mãe)

 “É uma coisa que eu gosto muito. Que me faz bem. É uma satisfação. É importante para eles serem bem cuidados.” (Fabiana, Tec. De Enfermagem, não é mãe, mas cuida do Miguel todas as tardes.)

”Eu amo o que eu faço. E não sei fazer outra coisa que não seja isso. Se me tirar daqui, perco a referência.” (Sabrina, Téc. de enfermagem, mãe da Kaylane e do Icaro)

 “Eu tenho uma dádiva de ter escolhido uma profissão onde o que eu penso e o que eu faço pode alterar o destino dos pacientes. E quando a gente consegue superar os desafios é muito gratificante.” ( Dra. Miriam, pediatra, mãe da Carolina – pegou e cuidou do Miguel na hora da cesariana e cuida ainda hoje).

 “È uma satisfação enorme. Diariamente uma batalha pela vida. Eu amo o que eu faço. Não faria outra coisa na vida”. (Dra. Andréa, pediatra – não é mãe).

 “É gratificante. Principalmente esses pequenininhos igual ao Miguel. E o que me mais toca ainda é a dedicação dos pais, o empenho.” ( Dr. Joaquim, pediatra – pai do Francisco, da Maria Clara e avô da Beatriz).

 “É uma outra responsabilidade. A gente se apega demais. A gente fica feliz com cada vitória e chateado quando eles regridem um pouquinho.” (Simone, Téc. De enfermagem).

 “É tudo. Uma baita realização. Muita responsabilidade, mas muito prazer e muito retorno. Há algumas perdas e uma renovação. Todos os dias eu me renovo. É como ser mãe deles, de uma maneira figurativa. Mas sou mãe deles.” (Dra. Paola, pediatra, mãe do Piero e do Matheus – acha Miguel um pentelho por ter tantas complicações).

“ Para mim é tudo cuidar deles. Não tem outra coisa que não seja isso. Eu me orgulho muito de mim por saber cuidar deles. É um dom divino, que Deus escolhe a dedo quem vai cuidar deles. E eu fui escolhida.” ( Renata - Téc. De enfermagem, mãe da Julia – cuida – muito bem - do Miguel todos os dias).

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Miguel fez 1 mês!!!!

30 dias: 29 transfusões(entre sangue, plaquetas e etc..). 1 infecção bacteriana. 1 cirurgia cardíaca. 1 infecção por fungo, meningite e instabilidade pulmonar.
Querem mais? Eu não. Nem Miguel.
No último dia 20, meu filho completou um mês de vida. E já carrega todo esse peso na bagagem de sua pequena vida.
Nem tudo está curado. Mas ele resiste. É um passarinho forte. E suas batalhas estão só começando.
De qualquer forma vou tentar resumir esses 30 longos dias sem mencionar as moléstias.

A rotina

Hospital. Elevador. Primeiro andar. Lado direito. – ao lado esquerdo fica o berçário dos bebês que nascem de 9 meses e sem problemas. Vou para o lado direito. Sou recebida pelo cheiro peculiar da UTI Neo Natal. Portas de vidro fechadas. Toco o interfone: “ Pois não?”. Eu respondo: “È Carolina, a mãe do Miguel”. Me deixam entrar. Visto o avental e lavo as mãos. Cumprimento as enfermeiras e entro na sala 4.
Lá está Miguel, meu passarinho dentro da sua caixa transparente. Lavo as mãos novamente e uso álcool gel. Digo “Olá” (bato um papo com as enfermeiras e fisioterapeutas de plantão) e vou velar minha cria.
Admiro, converso, canto, rezo, faço carinho em sua cabeça com a ponta dos meus dedos. E é só o que posso fazer até o momento.
Vou para coleta de leite que as mães carinhosamente chamam de “vaca”. Volto para UTI com os mesmos movimentos e continuo a velar meu filho. Depois de algum tempo, faço uma última oração e me despeço.
Vou para casa. Mas, meu coração fica. Desde o dia 20 de junho que meu coração não mora mais no meu peito. Ele fica junto com o pedaço de mim que chamo de Miguel.
No início era mais difícil. Chorava toda vez que via mães levando seus filhos recém nascidos e embrulhados como presentes para casa. Hoje não choro mais. Estou resignada e aceito o que me foi dado por Deus.
Meu bebê está lá, dentro da caixa. É o meu presente. O meu passarinho.
Qualquer dia ele sai da caixa transparente e vem para sua casa. Esse sim, seu verdadeiro ninho.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O que eu fiz? Um passarinho que mata leões.

O que eu fiz de errado? Por que eu?
Essas perguntas gritavam dentro de mim, mesmo os médicos insistindo que o problema era fisiológico, que eu não tinha culpa.
Ver Miguel tão pequeno e frágil na caixinha de UTI além de tudo o que já representa, é também uma frustração. Não me entendam mal, não é futilidade, é sentimento mesmo. Assim como a culpa, a frustração é algo implacável. E comigo não é diferente. Sempre me sentirei culpada e frustrada.
Queria muito ter levado a gravidez normalmente, me deleitar com o barrigão e sentir seus chutes cutucando minha barriga esticada. Não deu.
Talvez por isso, eu sinta dores profundas na alma quando me esqueço por um momento e chamo por ele dentro de mim. Como se ainda estivesse lá...
O sofrimento é ainda maior ao olhar para Miguel dentro da caixa transparente. E o meu ventre vazio. O lugar onde ele deveria estar, sem tubos e agulhas enfiadas na pele.
Não tem jeito.
Hoje as perguntas que antes falavam tão alto na minha cabeça estão mais silenciosas. Vivendo no hospital estou aprendendo que algumas coisas não escolhem beleza, poder aquisitivo, cor, benevolência ou simpatia...
Elas acontecem e pronto. Independente das minhas dúvidas e questionamentos.
E não há como voltar atrás. Só tentar seguir em frente. Nem sempre a cabeça estará erguida, afinal, as más notícias são como grandes pedras atiradas na sua testa. Dói e você chora. Mas passa. Por que os dias continuam e os leões estão lá para serem mortos.
E quem vai matá-los? Um passarinho, é claro. A luta é desleal. Mas ele briga assim mesmo.
E um dia como nas fábulas, todos saberão de seus feitos: Miguel, o passarinho que matava leões.

domingo, 4 de julho de 2010

FOI ASSIM...

Explico aqui por que Miguel é prematuro.
Tudo ia muito bem até chegarmos do quinto para o sexto mês (não me lembro as semanas). Fizemos uma Ultra-sonografia Obstétrica. Na hora do exame a médica mandou a seguinte frase: “ É... parece que há uma resistência nas suas artérias uterinas.”
Na hora tocou o alarme (eu estava adivinhando) e ela muito fofa ao meu desespero falou: “Não é nada, não. È só uma resistência, mas é normal na sua idade gestacional.”
Ela era fofa demais. E eu costumo ter medo de gente fofa. Nunca passam a realidade da situação. Mas acabei me deixando levar e esperei a consulta Pré Natal tranqüilamente. Afinal, ela foi tão fofa...
E eu fui trouxa. E não deu outra, a pessoa fofa escreveu no laudo, que diferente do que ela me disse fofamente, o bicho tava pegando para o meu lado.

A tal da DHEG

Não serei fofa. Serei prática e objetiva.
Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG). Foi isso que eu tive. Esse troço aumenta a pressão arterial e causa uma alteração placentária, com retardo de crescimento uterino. Não há uma causa para a doença e o único tratamento é o controle durante a gestação.
No meu caso, ela aconteceu muito cedo, obrigando a obstetra a me acompanhar semanalmente com visitas e ultra-sonografias a partir do 6º mês. Quando chegamos a 28ª semana de gestação, Miguel chegou também ao seu limite. E durante um último exame já no hospital, aconteceu o que os médicos chamam de Centralização. Explico. O bebê começou a entrar em sofrimento e se esperássemos mais um pouco, as conseqüências seriam muito mais graves. Foi a decisão correta.
Agora Miguel precisa crescer e se desenvolver fora da barriga o que não foi possível dentro.

Por Carolina Jardim

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Meu bebê é um passarinho

20 de junho de 2010. Domingo de sol, mas com um ventinho frio. Copa do mundo. Jogo do Brasil. Brasil 3 X 1 Costa do Marfim. Véspera de inverno. Um dia “normal”.
Que nada. Às 11:34 nasceu Miguel. Miguel tinha 28 semanas de gestação, 720 gramas num corpo de 32,5 cm.
Um prematuro. Como os médicos chamam, Prematuro Extremo.
Diferente das outras mães e pais, não tive a emoção de tocar ou sentir o cheiro do meu filho pela primeira vez. Os pediatras o levaram embora assim que foi tirado da barriga. Quando ele finalmente apareceu já estava numa caixa transparente. Só vi de longe.
E continuo vendo desse jeito. Eu no mundo e Miguel na caixa transparente. Só posso tocá-lo com ponta dos dedos. Pele fina, ossos salientes, pouca carne para rechear o corpo minúsculo.
A primeira coisa que pensei quando fiquei de frente para caixa: “Meu Deus, parece um passarinho”.
Meu passarinho.
Passarinho invocado, que luta para sobreviver como poucos. Meu bravo passarinho. De asas peladas, mas peito cheio de coragem e vontade de viver.
A ficha demora a cair. Finalmente um sonho de infância realizado. Sou mãe. Mas não uma mãe comum. Por complicações na gestação meu bebê não completou os nove meses. Hoje isso importa muito e importa muito pouco.
Sou mãe. Mãe de um passarinho. Um Passarinho chamado Miguel.