sábado, 20 de novembro de 2010

A ALTA



A ALTA

Depois de quase 5 meses na UTI, Miguel recebeu alta.

A despedida do hospital foi muito bonita e ao mesmo tempo dolorosa.

Sempre que um bebê fica muito tempo na UTI e vai embora, todas as enfermeiras, técnicas e mães fazem um corredor de aplausos para que a mãe e o bebê passem e se despeçam.

É muito emocionante e um filme passa na sua cabeça. Você diz adeus a cada um e lembra de quanto aquela pessoa foi importante para o seu filho. E quando se despede das mães, fica torcendo para que elas possam ir embora também com seus bebês no colo. A maioria chora. Um choro de alegria, pela missão cumprida e tristeza pelo amigo que se vai. São muitas emoções juntas, não tem como explicar.

Ter ficado quase 5 meses no hospital foi terrível, mas até isso tem seu lado bom. Quanta bagagem, quanto aprendizado e quantos amigos eu fiz.

O meu lado mãe floresceu de uma forma diferente das outras mulheres. Não tive a ajuda do instinto materno. Quando um ser humano sai de você com 720 gramas e fica numa caixa transparente tentando sobreviver, é um teste. No início há um medo de se apegar aquela criatura tão frágil, a sensação de que não vai dar certo é muito forte. Mas conforme o tempo vai passando, a criatura cresce, tem um rosto e cria personalidade, a gente se pergunta: por que não? Por que não pode dar certo? Será que é impossível mesmo?

Aí o amor vem. E não tem mais jeito. Já era.

Pensando hoje, vejo que o que me despertou a maternidade talvez tenha sido a convivência com a vida e a morte de forma tão intensa, tão real.

E isso fortalece também.

Hoje vejo que não sou uma mãe qualquer. Nenhuma daquelas mulheres da UTI é. Temos a verdadeira noção do que é realmente grave e o que é um simples dodói. Não vou me apavorar de bobeira.

Minha fé mudou também. Agora, acredito em milagres. Afinal, tenho um milagre que chamo de filho.

EM CASA, E AGORA?

Vou confessar, deu muito medo de levar ele para casa. Como já disse, nunca fui jeitosa com criança alguma e agora sou mãe. Todos os dias, peço que Deus me dê luz e discernimento para que eu faça as coisas certas. Meu grande pesadelo é ele voltar para o hospital. Acho que todas as mães pensam assim. É muita pressão e a gente dá uma pirada mesmo.

Tenho que dar banho sozinha, controlar os remédios e as mamadas. Fora o resto todo. Ufa!

Mas aos poucos vou aprendendo e seguindo o meu caminho. Errando, acertando e descobrindo o melhor jeito de cuidar do passarinho. Sou mãe de primeira viagem e já no início enfrentei a ira de Poseidon.

Hoje o mar está mais calmo. Nadamos muito e chegamos em terra firme.

Pensando em tudo, vemos que deixamos para trás muita coisa ruim, mas também amigos para a vida inteira. Pessoas que vamos carregar no coração para sempre. Que fizeram da minha dor a sua própria e choraram comigo nesses momentos. E riram também nas horas de vitória. Ouviram meus desabafos e me aconselharam várias vezes. Me sopraram esperança no ouvido e seguraram na minha mão.

Pessoas que tornaram minha estadia naquele hospital suportável e cuidaram do Miguel como se fosse seu próprio filho.

Deixo aqui um beijo especial para algumas dessas pessoas:

Moniquinha, Renata TE, Etiene, Renata Enfermeira, as duas Liliam(s) TE (noite), Fabiana, Beth, Gabi, Marilia, Camila, Luciana, Tati Enfermeira (noite) e Érica do banco de leite. Amo vocês.

De verdade.

Obrigada.