O Diagnóstico
Pois bem. Depois de muita caminhada, encontramos
uma boa neurologista (já tinha passado por uma que me detonou e outro que falou
em perfeição, claro que não podia ser nenhum dos dois).
Então essa terceira viu todos os exames, observou
bem ela e chegou a conclusão que Miguel era um vencedor. Que estava ótimo mesmo
com tudo o que aconteceu.
Mas (sempre tem o “mas”) devido a todas as intercorrências:
paradas cardíacas, respiratórias, meningite e outros, as lesões foram
inevitáveis e junto com elas um Comportamento Autista. Pronto, falei.
A Psicóloga e a Neonatologista já tinham
mencionado isso, mas eu fingi que não ouvi. Sério. Não queria aceitar de jeito
nenhum.
O Autismo veio para mim do mesmo jeito que a
Meningite. Um caminho sem volta. Dolorido. Eu sabia que seria muito difícil.
Eu tinha medo do “Rain Man” (um filme dos anos 80
em que o Tom Cruise tem um irmão autista já velho (Dustin Hoffman) em grau
severo totalmente dependente.
Então entrei em pânico e chorei. Chorei uns 15
dias em pura negação. Já tínhamos passado por tanta coisa e a gente só queria
paz.
Depois de chorar minhas pitangas, resolvi seguir
em frente. Correr em frente na verdade. Perdi muito tempo sendo uma mãe normal
e agora eu precisava resgatar aquela força dos tempos de UTI. Afina eu sou Mãe
de Passarinho.
E assim eu fiz. Comecei a pesquisar sobre o
assunto e a fazer comparativos com o Miguel. Mergulhei na terapia e tudo
começou a fazer sentido.
O que eu não queria ver é que eu tinha uma
criança crescendo diferente das outras.
Ele não dava atenção para ninguém. Tinha fixação
por números e letras e com quase 6 anos ainda não falava direito. Eu não
conseguia ter controle sobre ele e muitas vezes perdia a paciência com suas
atitudes e manias. Mas achava que tudo era a prematuridade.
Quando na verdade já era ao Autismo se mostrando
para uma mãe em negação.
Eu errei muito nisso, eu sei. Já me culpei muito.
Mas vida que segue e ele não podia mais esperar. Parei de ter pena de mim mesma
e fui tocar a vida. Do jeito que ela era.
Fazemos fono, Psicóloga e Psicopedagoga. E nesse
momento – para ele – é o suficiente. .mais que isso pode cansar demais e nada
vai fazer efeito.
Todo processo é lento. Muito. Todos os progressos
demoram demais. As vezes tenho a sensação de que anda vai ajudar. É uma angústia.
Mas para uma mãe de prematuro e agora de autista,
paciência, resiliência, resistência e “força na peruca” já fazem parte da
rotina. Tem que respirar e continuar. Simples assim.
Explicando o transtorno do Espectro Autista
Lembrando que não sou médica, só uma mãe
dedicada.
O Autismo afeta a capacidade de comunicação do
indivíduo, de socialização (estabelecer relacionamentos) e de comportamento
(responder apropriadamente ao ambiente).
O Autismo acarreta o comprometimento de 3
principais eixos:
- interações sociais
- comportamentos estereotipados, repetitivos e
com poucos interesses.
- comprometimento forte na linguagem e na
comunicação.
O Autista não aprende por “osmose”. Crianças
normais tendem a imitar o comportamento alheio, aprender a falar mais
instintivamente mesmo que seja vendo TV.
O Autista precisa ser ensinado sobre tudo. Muitas
vezes. Demoram a aprender coisas básicas. E vira algo mecânico. Também são
incapazes de entender sutilezas, entrelinhas, sarcasmo, ironia, piadas ou duplo
sentido. A maldade e malícia são inexistentes.
O Autismo não tem cura. E até hoje não se sabe
qual é a causa. O que se consegue é melhorar a qualidade de vida.
Proporcionando o máximo de autonomia e entendendo o comportamento e as
necessidades da criança. Aí que entram as terapias. Mas eu vou falar sobre isso
depois.
O importante é a participação de toda a família.
É algo que precisa ser feito em conjunto. E nós fazemos isso. Cada vez que
chego da fono ou da psicóloga com uma novidade, espalho e ensino para todo
mundo. Avós, tios, primos. Todos precisam ajudar nessa jornada.
O trabalho de hoje reflete diretamente no futuro.
Miguel precisa de autonomia, independência. Se
virar sozinho mesmo.
Mas superar obstáculos é
especialidade dele. Desde que nasceu, meu Passarinho já matava Leões. E segue
lutando com sorriso no rosto, peito aberto e a coragem de uma criança